Teste de DNA pode transformar o diagnóstico de câncer de próstata no futuro
Publicado em: 24/04/2025, 13:37

Um teste de DNA pode mudar o cenário de diagnóstico precoce do câncer de próstata. Essa é a aposta apresentada em um estudo britânico publicado recentemente na prestigiada revista científica New England Journal of Medicine.
A proposta dos cientistas era analisar o DNA de homens para descobrir quem tinha maiores riscos de desenvolver o câncer de próstata. Depois, encaminhá-los para realizar exames adicionais, de biópsia da próstata e ressonância magnética, para identificar possíveis tumores.
E qual foi o resultado? Segundo os pesquisadores, uma parcela significativa dos homens testados foram diagnosticados com tumores que teriam passado despercebidos pelos atuais testes de câncer de próstata no Reino Unido – exame de urina, exame de PSA, toque retal e ressonância magnética em caso de PSA alto, de acordo com o serviço nacional de saúde do país, o NHS.
Usar testes genéticos para criar estratégias públicas de rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de próstata é a grande novidade da pesquisa. “Essa é a materialização da medicina personalizada em um sistema de saúde público”, comenta o médico geneticista do DB Diagnósticos, Carlos Aschoff.
Apesar de promissor, o urologista e coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, Maurício Cordeiro, alerta que o uso de testes genéticos como base para a indicação de biópsias em larga escala no caso do câncer de próstata está distante da realidade brasileira. “É algo ainda muito recente”, justifica.
Entenda mais sobre o estudo britânico
O estudo recrutou 6.393 homens de 55 a 69 anos de centros de assistência básica de saúde no Reino Unido para participarem do experimento.
O exame utilizou DNA extraído da saliva dos participantes para procurar por 130 variáveis genéticas que podem aumentar o risco de desenvolvimento do câncer de próstata.
De todos os participantes, aqueles que apresentavam um risco de 90% ou mais de desenvolver a doença foram convidados a realizar exames adicionais de rastreamento do câncer de próstata, independentemente do nível de PSA.
Dos 745 homens designados a fazer tais exames extras, 468 realizaram biópsia e ressonância magnética a fim de detectar a doença. Desse grupo, 187 foram de fato diagnosticados com câncer de próstata. A maioria deles (103) tinha a doença classificada como de risco intermediário ou alto e foi encaminhada para tratamento.
Segundo os pesquisadores, o câncer de próstata não teria sido detectado em 74 destes participantes pelos métodos usados atualmente para rastrear a doença no Reino Unido.
O estudo é mais um passo dado em relação ao uso da genética no diagnóstico de câncer. Porém, pode demorar anos até que ele seja comum na prática clínica por aqui. “Esse estudo foi validado clinicamente na população europeia, especialmente britânica. Será que as variáveis usadas no estudo funcionariam em outras populações, como a do Brasil? Precisaríamos de mais estudos”, evidencia o geneticista Carlos Aschoff.
Testes genéticos como prevenção de câncer no Brasil
No Brasil, testes de DNA capazes de avaliar riscos de uma pessoa desenvolver câncer existem e já estão bem estabelecidos em laboratórios pelo país.
No caso do câncer de próstata é possível solicitar, na rede privada, um sequenciamento genômico que vai avaliar se um paciente tem os genes BRCA1 e BRCA2, por exemplo, que reconhecidamente aumentam os riscos de uma pessoa desenvolver o câncer de próstata.
O sequenciamento genômico também pode detectar outros tipos de câncer e doenças com predisposição genética. No entanto, a prática desse tipo de teste ainda é uma conduta principalmente individual e voluntária, como explica o geneticista: “geralmente quem faz teste genético é aquela pessoa que tem um caso familiar de câncer, mas há poucas estratégias públicas que incentivam a prática”.
Estados como Brasília, Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais e Amazonas têm legislações que estabelecem o oferecimento do mapeamento genético para detectar o câncer de mama e ovários de forma gratuita às mulheres com risco elevado de desenvolver essas doenças. Não há estratégias parecidas para outros tipos de câncer, no entanto, como o de próstata, que já é o segundo mais comum no Brasil. Ou seja, atualmente, os testes de mapeamento genético nesse caso são mais frequentes na rede privada.
Até porque, segundo uma regulamentação de 2013 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), testes de sequenciamento dos genes BRCA1 e BRCA2 (ligados ao câncer de mama, ovário e próstata) passaram a integrar a lista de exames que devem ser cobertos integralmente pelos planos de saúde, dependendo de alguns requisitos.
Para o médico geneticista Carlos Aschoff, ainda há alguns desafios para o avanço de estudos similares no Brasil, como a escassez de geneticistas especializados. Ainda assim, o especialista é otimista. “Enxergo esse estudo como uma sinalização para o Ministério da Saúde e da Educação tanto financiar tais tipos de pesquisas nas universidades quanto adotar estratégias de prevenção semelhantes ao do estudo britânico”, diz.
Quem deve fazer testes genéticos?
No contexto do câncer, como explicou Aschoff, os testes genéticos são recomendados principalmente para pessoas que têm histórico familiar próximo de câncer, como pais, irmãos e avós.
Mas atenção: quem vai fazer algum mapeamento genético precisa do direcionamento de um especialista. “O teste genético é uma informação que vai afetar a pessoa que faz o teste e também a sua família. Então é importante que haja sempre um acompanhamento de um médico que vai poder orientar a família a lidar com as informações obtidas”, alerta o geneticista.
Matéria retirada do site Oncomonitor - Original Aqui