Patologia Pulmonar na jornada diagnóstica do paciente
Publicado em: 12/09/2025, 13:12

Por: Prof. Dr. Alexandre Todorovic Fabro
A medicina moderna não se faz mais por médicos “solitários”. Se no passado o olhar do clínico ditava isoladamente condutas, hoje a força está na integração da radiologia e da patologia. A patologia pulmonar, área dedicada ao diagnóstico das doenças torácicas e pulmonares a partir de biópsias e peças cirúrgicas, é um exemplo claro de como a discussão multidisciplinar transformou o cuidado dos pacientes, seja nos tumores pulmonares, seja nas doenças pulmonares intersticiais (DPIs).
O câncer de pulmão ainda é uma das principais causas de mortalidade no mundo. Seu diagnóstico e tratamento são um desafio que exige precisão. Cada detalhe pode significar uma mudança radical na conduta terapêutica. É aqui que entra o “tumor board”, uma reunião multidisciplinar que envolve patologistas, radiologistas, oncologistas, cirurgiões torácicos, pneumologistas e outros especialistas. O patologista identifica se a lesão é um adenocarcinoma, um carcinoma escamoso ou outro subtipo, além de indicar marcadores de estadiamento, imuno-histoquímicos e testes moleculares, essenciais para definir terapias-alvo e/ou imunoterapias. O radiologista mostra a extensão da lesão e possíveis metástases. O oncologista discute a elegibilidade para diferentes condutas terapêuticas. O cirurgião avalia as possibilidades de ressecção. Sem essa interação, decisões poderiam ser precipitadas ou incompletas. No “tumor board”, a informação clínica circula de forma integrada e cada caso é visto de maneira única, o que aumenta as chances de um tratamento personalizado e assim efetivo e acurado, focado nos melhores resultados ao paciente. Hoje o “tumor board” é considerado padrão-ouro em centros oncológicos do mundo todo.
Similarmente, o diagnóstico das DPIs era altamente fragmentado frente a um grupo complexo e heterogêneo de doenças, incluindo a fibrose pulmonar idiopática, a pneumonite de hipersensibilidade, a fibrose intersticial relacionada à microaspiração e as associadas a doenças do tecido conjuntivo, entre outras. Nesses casos, nenhum especialista sozinho consegue dar a palavra final. A biópsia pulmonar pode revelar padrões como a pneumonite intersticial usual ou o padrão bronquiolocêntrico, mas esses achados só ganham sentido quando correlacionados com a história clínica, exames laboratoriais e achados de imagem de alta resolução. Assim, nasceu a discussão multidisciplinar de DPIs, uma reunião que reúne patologistas, radiologistas e pneumologistas. Juntos, eles constroem o diagnóstico final e orientam terapias que vão desde imunossupressores até antifibróticos, sempre considerando riscos, benefícios e a individualidade de cada paciente.
Desta forma, para o médico, a discussão multidisciplinar é um instrumento de segurança diagnóstica, enquanto que para o paciente é sinônimo de precisão e esperança. O “tumor board” evita que um paciente receba quimioterapia quando o ideal seria cirurgia. A discussão multidisciplinar das DPIs reduz erros de diagnóstico em doenças raras e previne tratamentos desnecessários e tóxicos. No fim das contas, não se trata apenas de medicina de precisão, mas de medicina de colaboração. A soma dos saberes multiplica as chances de desfechos positivos.
Por fim, a integração entre especialidades tende a se aprofundar ainda mais com a chegada de ferramentas digitais e de inteligência artificial, análises genômicas e integração radiológica e patológica digitais. Mas, mesmo com tanta tecnologia, permanece u um princípio central: a decisão certa nasce do diálogo. No câncer e nas DPIs, o caminho mais curto para cuidar bem continua sendo o mesmo: juntar pessoas em torno do paciente.